Após sessão especial para público de baixa renda, Coletivo Bispo realiza debate sobre arte e educação

A noite de quarta-feira (17) foi especial para a plateia que prestigiou a apresentação do espetáculo Bispo. Logo após a exibição da peça, encenada pelo ator João Miguel, o público de convidados, formado por alunos e educadores de ONGs, associações e instituições de ensino de Salvador, participaram de um rico debate sobre arte educação. E não faltaram boas reflexões e contribuições sobre o tema.

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Foto Dayanne Pereira

O ator João Miguel recebeu para o bate papo, a educadora e coordenadora executiva da Fundação Negro Amor, Ana Nossa; a professora de literatura na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antônia Torreão Herrera; o professor de ética, responsabilidade social e filosofia na Fundação Visconde de Cairu e no Centro Universitário Estácio da Bahia, Washington Oliveira e a coordenadora de educação infantil da escola Lua Nova, Bete Tourinho.

Foto Dayanne Pereira

Foto Dayanne Pereira

Ainda impactados pelo espetáculo, inspirado livremente na vida e obra do artista plástico Arthur Bispo do Rosário, que viveu 50 anos internado na Colônia Juliano Moreira, hospício no Rio de Janeiro, e lá construiu um mundo em miniatura, que segundo ele, não era arte e sim a sua salvação. O bate papo entre público e educadores, girou em torno da importância de reconhecer novos valores e de incentivar a ludicidade e criatividade, não apenas em ambientes considerados artísticos, mas também nos espaços escolares, de trabalho e da vida em geral.

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Foto Dayanne Pereira

O professor Washington Oliveira também chamou à reflexão, sobre o comportamento dos “educadores, que podem atuar tanto como repressores ou como pessoas que possibilitam a oportunidade de novos caminhos”.  Já Ana Nossa, sinalizou que o conceito “dilatado de arte expande a educação” e exemplificou com o caso de uma menina de sete anos, que desabrochou depois de fazer aulas de palhaço na oficina que vem sendo realizada pelo Coletivo Bispo, na Escola Aberta do Calabar, em Salvador.

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Foto Dayanne Pereira

Para a professora Antônia Torreão, o Espetáculo Bispo possibilita não só a reflexão sobre a loucura,  mas também sobre a lucidez do artista. “A experiência de assistir a peça é educadora em si,  mesmo que você não perceba na hora. Com certeza o olhar para o outro depois de assistir Bispo muda”, disse.

O ator e apresentador Jackson Costa, contou que já foi reprovado quando era criança por ter pintado o céu de verde e grama de azul. Em sua fala o artista considerou que é necessário ter lugar do lúdico na educação e que é preciso pensar em como “juntar a arte com a educação, para que esse processo possa ter mais asas”.

Feliz com o curso do bate papo, o ator João Miguel, representando o Coletivo Bispo, reiterou  a necessidade de integrar educação e arte. Para ele, é preciso encarar que o “o processo de educação também é o de entrar em um lugar desconhecido”  e que neste lugar, “a troca é o que mais me encanta na arte educação”.

Alguns alunos convidados também manifestaram as suas percepções e diferentes olhares sobre o espetáculo. Josiclecia de Lourdes, graduanda de pedagogia na Faculdade Vasco da Gama, percebeu as questões das inquietações de Bispo e da visibilidade perante o outro; “o que me chamou a atenção foi o conflito de um ser e sua ‘insanidade’ e a questão de ser transparente e colorido ao mesmo tempo, ou seja, entendi que ele ao mesmo tempo que não é notado por algumas pessoas, pode ser notado por outras, por isso alguns poderiam identificar ou não a cor da áurea dele”.

Já Matheus Carvalho, graduando de letras na Ufba, ressaltou o aspecto artístico; “o espetáculo é um problema do fazer estético e artístico do que é a arte. Bispo nos faz refletir sobre o fazer artístico no mundo de Bispo, no nosso mundo e para além do nosso mundo”. Para Monique Neiva, também graduanda de letras na Ufba, o ponto alto do espetáculo foi “a problematização da loucura . Saí me questionando qual seria a loucura nociva ou benéfica ao homem? O espetáculo superou as minhas expectativas”.

Um dos participantes da plateia que pediram a fala foi o médico Humberto Torreão Herrera. Especializado em saúde pública ele se disse muito tocado com o espetáculo e justificou que muitas vezes os profissionais de saúde tendem se  tornarem “cada vez mais impermeáveis ao sofrimento alheio” porque é muito difícil lidar com o sofrimento humano. O médico disse ainda que após o espetáculo se sente mais capaz de entender as pessoas diferentes e que vai reduzir a expectativa de trazê-las “para o centro do que a gente diz que é normal” pois isso os fazem sofrer mais ainda. “Eu fiquei com esse sentimento da peça. É transparente o que está dentro e o que está fora do Bispo e a gente vive muito nesse conflito de que o que está dentro nem sempre pode aparecer fora e é tão distante o que tá fora que a gente vive numa realidade meio dúbia. E a aura dele é tão transparente, às vezes colorida, que para mim ficou muito claro porque que para ele não é arte [e sim] a salvação, porque se não for daquele jeito não tem nenhum liame de equilíbrio para a vida dele. Daí dessa transparência é que vem os traços de lucidez que eu achei fantástico. No momento em que você constrói aquela obra de arte que é aquela rosa, com a água regando, e lança aquelas mensagens com aquela força é como se fossem conselhos, eu senti aquilo com uma força muito grande. Além da beleza da cena”, destacou o médico.

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